domingo, 11 de janeiro de 2009

À tarde

A torneira está pingando. A cada gota que cai na louça suja do almoço, ela se esforça mais para esquecer. Numa tarde quente, em que o tédio lhe faz companhia, é preciso driblar os pensamentos para não voltar àquela velha insegurança. Suas costas doem, mas nenhum lugar da casa parece menos desagradável que o sofá de dois lugares. Mais um pingo. Na estante, todos os livros se resumem à categoria de auto-ajuda, pelos menos hoje. Os programas na televisão também não ajudam. Tem farelos na colcha velha, mas ela finge não se importar. Os pensamentos voltam e ela os expulsa com uma vontade duvidosa. O som de outro pingo na cozinha. Se ao menos ela pudesse isolar todos seus sentidos, por um minuto se quer. Pingo. Mas ela não pode.Outro. Ela tenta, em vão. Um. Dois. Três pingos seguidos.Ela se levanta. Abre a torneira e toma um copo d’água. Quente. Fecha bem a torneira, cessam os pingos e ela vai pro chuveiro.

Um comentário:

  1. Gostei muito daqui, mas esse, particularmente, pra mim foi o mais bonito! ;D Parabéns!

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